Exatas 11.944 pessoas foram atendidas nos 1.323 círculos de paz realizados pelo projeto Porto Seguro, na Região Metropolitana de Belém (RMB), nos últimos dois anos. Os dados foram apresentados, na tarde de sexta-feira, 23, durante o seminário “Círculos de diálogo: Celebrando resultados”. O projeto, que tem à frente a Coordenadoria Estadual da Infância e Juventude (CEIJ) do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), promove diálogo entre os participantes com o objetivo de combater a violência e estimular a cultura da paz.
Entre agosto de 2022 e agosto de 2024, o projeto passou por 45 escolas e onze unidades da Funpapa. A ação alcançou 9.442 crianças, 1.534 profissionais e 1.041 familiares. Para o coordenador da CEIJ, desembargador José Maria Teixeira do Rosário, o projeto se faz necessário para enfrentamento da violência na sociedade, em especial na escola, com o diferencial que a Justiça Restaurativa foca na vítima. “Esse projeto se estende não só aos adolescentes infratores, mas também a família e a escola. É fazer com que se aplique na prática o perdão”, explicou na abertura do evento.
Em seguida, Mayla Nascimento apresentou o Porto Seguro: Círculos de Diálogo” ao público, formado por profissionais das instituições parceiras, e facilitadores (as) da Justiça Restaurativa. A especialista explicou que o projeto permitiu estabelecer espaços em que crianças e adolescentes pudessem ser ouvidos. “Não é à toa que nosso projeto teve um crescimento grande dentro das instituições, no momento que você consegue passar a ideia de um cuidado. Nosso cuidado é no sentido de acolher não só crianças e adolescentes, mas nossos profissionais que cuidam. Cuidar de quem cuida”, esclareceu.
Outro dado apresentado no seminário é que crianças e adolescentes negras formaram a maioria do público atendido. A informação resulta do monitoramento, pesquisa e avaliação do projeto que teve a frente a professora de pedagogia da Universidade Federal Rural da amazônia (UFRA), Nicelma Josenila Costa de Brito, parceira do projeto, que traçou o perfil socioeconômico das pessoas atendidas pelo Porto Seguro, destacando o impacto da ação nos participantes, que sentiram no espaço a segurança necessária para fluidez do diálogo.
Ainda na programação, o TJPA e as instituições parceiras assinaram o Termo de Cooperação Técnica do Projeto Porto Seguro: Ações para a Infância e Juventude, com o objetivo de dar continuidade e expandir as atividades. Assinaram o documento, representantes do TJPA/CEIJ, Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc), Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec), Fundação Papa João XXIII (Funpapa), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Fundação Escola Bosque, Grupo Espírita Jardim das Oliveiras, Movimento República de Emaús e Espaço Cultural Nossa Biblioteca.
A programação encerrou com a videoconferência “Promovendo a infância e a juventude – A Justiça Restaurativa e as desigualdades sociais” com a participação virtual das especialistas em Justiça Restaurativa, Kay Pranis e Fátima de Bastiani. Para Kay, é importante mudar o comportamento dos adultos para que sirvam de modelos. “Como não é possível mudar o comportamento de outros adultos, cada um deve tentar mudar a si”, afirmou. “É possível vivermos juntos cuidando das nossas necessidades ao mesmo tempo que cuidamos das necessidades dos outros”.
A professora destacou ainda da importância dos adultos alinharem suas intenções com o impacto real das ações, ressaltando que as pessoas só conseguem mudar em um espaço de não condenação. “A maioria dos adultos que trabalham com jovens se importam com eles, entretanto a socialização desses adultos lhes ensinou que controle e punição muda o comportamento negativo dos jovens. O controle externo, ameaça de castigo e humilhação não produzem comportamentos melhores”, afirmou.
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