Ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas (CPIMJAE) nesta quarta-feira (27), o presidente do Esporte Clube Nova Cidade de Nilópolis (RJ), Jorge Luiz Pacheco Eloy, disse não ver correlação entre a derrota de virada para o Belford Roxo, em partida da equipe sub-20, e o elevado volume de apostas no resultado. Ele defendeu a idoneidade do clube, mas lembrou que, à época da partida sob questionamento, o time estava sob gestão terceirizada.
A oitiva atendeu a requerimento (
O senador Eduardo Girão (Novo-CE), presidindo a reunião, destacou a partida da terceira divisão do campeonato estadual sub-20, em 5 de junho, em que o Nova Cidade vencia por 3 a 1 o Belford Roxo ao fim do primeiro tempo, mas acabou perdendo o jogo por 5 a 3 — “virada improvável” que foi acompanhada de um volume atípico de apostas em bets na Ásia, o que teria chamado atenção dos órgãos de compliance.
Eloy explicou que a Ferj suspendeu os dois clubes por suspeita de manipulação de resultado, mas o Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Estado do Rio de Janeiro (TJD-RJ) absolveu as agremiações. Apesar do nome “tribunal”, o TJD-RJ é uma instância administrativa privada e não integra o Poder Judiciário.
O presidente do Nova Cidade admitiu que não assistiu ao jogo sob suspeita, mas, citando a virada do Palmeiras sobre o Botafogo em partida do Campeonato Brasileiro de 2023, disse que “isto é futebol”.
— A princípio não tem nenhuma suspeita, suposta suspeita de manipulação, não. É porque o time de base, ele exige muito do físico. E infelizmente a gente não tem profissionais competentes para estar exercendo a função de preparador físico. Jogam bem no primeiro tempo e, no segundo tempo, infelizmente, pode acontecer como aconteceu com o Botafogo: perdeu no físico, tomou quatro gols — avaliou.
Respondendo a pergunta de Jorge Kajuru lida por Girão, Eloy também disse não ver associação entre o resultado desfavorável e as apostas suspeitas: ele declarou desconhecer as “provas claras e incontestáveis” do cenário apostado que teria rendido R$ 5 mil para quem apostou R$ 200 nas bets da Ásia, que não teriam sido mencionadas no curso do processo no TJD-RJ, e disse não saber de pessoas ligadas ao clube que tenham feito apostas.
Para ele, foi “natural do futebol”, depois de duas derrotas seguidas, a demissão do treinador sub-20, Ede Vicente, que também era responsável pela gestão terceirizada da equipe e pelo agenciamento de transferência de jogadores destacados para outros clubes. No entanto, o presidente do clube questionou a gestão terceirizada e disse estar disposto a buscar “reparos” da empresa.
— [Fico] constrangido de ter envolvido o nome do Esporte Clube através de uma empresa que nós acreditávamos que seria uma pessoa idônea, que seria uma pessoa que poderia estar representando à altura o futebol do Brasil no Rio de Janeiro.
O dirigente disse que o contrato com a empresa não envolvia dinheiro, mas “projeção de determinados jogadores”, e, segundo ele, agenciadores particulares ou pessoas jurídicas do ramo constantemente procuram o clube e propõem parcerias semelhantes. Eloy salientou que, em seus 11 anos à frente do Nova Cidade, é a primeira vez em que o clube aceitou a participação de uma empresa para gerenciar o sub-20.
— Nunca fizemos isso, até porque a gente é um clube de origem humilde, de terceira divisão, sem recursos, sem apoio. E todos os clubes de terceira, quarta, quinta divisão, também ficam à mercê de aparecer uma empresa, um agenciador, um patrocinador que possa nos ajudar a custear uma competição, que é muito cara — esclareceu.
Jorge Luiz Pacheco Eloy ressaltou que o clube não compactua com o assédio a jogadores em torno de apostas esportivas. Ele opinou que o ideal seria acabar com as casas de apostas para tornar possível a volta de um “futebol de vibração”.
No mesmo sentido, Girão se disse preocupado com o alcance mundial das apostas esportivas, que estaria prejudicando um “grande patrimônio do povo brasileiro”.
— Você vê a que nível de ramificação, de capilaridade chegou o mundo da jogatina, que está destruindo o futebol, está afastando as torcidas. Tem muita gente pegando abuso, porque não sabe se o jogo está combinado, se não está. E tudo isso se agravou muito a partir de aposta esportiva.
Requerimentos
Também convidado para depoimento nesta data, Reginaldo Gomes, presidente da Sociedade Esportiva Belford Roxo, não compareceu à CPI. Ao fim da reunião, os membros da comissão aprovaram requerimento (
O colegiado também aprovou requerimento (
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)