Os EUA vetaram uma iniciativa do Conselho de Segurança da ONU para pedir um cessar-fogo em Gaza que, segundo Washington, teria encorajado o Hamas.
A resolução exigia “um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente” na guerra entre Israel e o grupo palestiniano, juntamente com “a libertação imediata e incondicional de todos os reféns”.
O Conselho de Segurança da ONU votou 14-1 a favor da resolução patrocinada pelos 10 membros eleitos no conselho de 15 membros, mas esta não foi adoptada devido ao veto dos EUA.
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, disse que a resolução “não era um caminho para a paz, era um roteiro para mais terror, mais sofrimento e mais derramamento de sangue.
“Muitos de vocês tentaram passar essa injustiça. Agradecemos aos Estados Unidos por exercerem o seu veto.”
Robert Wood, vice-embaixador na ONU, disse que a posição dos EUA continuava a ser a de que “devia haver uma ligação entre um cessar-fogo e a libertação de reféns”.
A guerra foi desencadeada pelo ataque a Israel por militantes do Hamas em 7 de Outubro de 2023, um ataque transfronteiriço que matou 1.206 pessoas, a maioria civis, de acordo com um balanço da AFP de números oficiais israelitas.
O Ministério da Saúde de Gaza disse que o número de mortos na guerra resultante atingiu 43.985 pessoas, a maioria civis. As Nações Unidas consideram os números fiáveis.
Dos 251 reféns capturados durante o ataque de 7 de Outubro, 97 permanecem em Gaza, incluindo 34 que os militares israelitas afirmam estarem mortos.
Quase todos os 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pela guerra, o que causou uma catástrofe humanitária.
O Hamas condenou Washington como um “parceiro na agressão contra o nosso povo…
“É um criminoso, mata crianças e mulheres e destrói a vida civil em Gaza.”
Desde o início do conflito, o Conselho de Segurança tem lutado para falar a uma só voz, já que os Estados Unidos usaram várias vezes o seu poder de veto, embora a Rússia e a China também o tenham feito.
“A China continuou a exigir uma linguagem mais forte”, disse um responsável dos EUA que também afirmou que a Rússia tem estado a “muxar os pauzinhos” com os países responsáveis pela aprovação da última resolução.
As poucas resoluções que os Estados Unidos permitiram aprovar através da abstenção não chegaram a apelar a um cessar-fogo incondicional e permanente.
Em março, o conselho apelou a um cessar-fogo temporário durante o mês sagrado muçulmano do Ramadãomas este apelo foi ignorado pelas partes em conflito.
E em Junho, o órgão de 15 membros prometeu apoio a uma resolução dos EUA que estabelecia um cessar-fogo em várias fases e um plano de libertação de reféns que, em última análise, não levou a lado nenhum.
“Lamentamos que o conselho tenha incorporado a linguagem de compromisso apresentada pelo Reino Unido para colmatar as lacunas existentes… Com essa linguagem, esta resolução deveria ter sido adotada”, disse Wood, o enviado dos EUA, após a votação.
Ondina Blokar Drobic, vice-embaixadora da Eslovénia na ONU, disse “lamentamos que o veto tenha sido lançado, ainda mais porque esta guerra, com o seu impacto humanitário e efeitos colaterais, representa uma séria ameaça à paz e segurança internacionais”.
Alguns diplomatas expressaram otimismo de que, após a vitória eleitoral de Donald Trump, Joe Biden possa ser mais flexível nas poucas semanas que lhe restam no poder.
Eles esperavam uma repetição de Dezembro de 2016, quando o segundo mandato do então presidente Barack Obama estava a terminar e o conselho aprovou uma resolução apelando à suspensão da construção de colonatos israelitas nos territórios ocupados, pela primeira vez desde 1979.
Os Estados Unidos abstiveram-se então de usar o seu veto, uma ruptura com o apoio tradicional dos EUA a Israel na delicada questão dos colonatos.
“Mais uma vez, os EUA usaram o seu veto para garantir a impunidade de Israel, à medida que as suas forças continuam a cometer crimes contra os palestinianos em Gaza”, afirmou a Human Rights Watch.
A resolução vetada na quarta-feira apela à “entrada segura e desimpedida de assistência humanitária em grande escala”, incluindo no norte de Gaza sitiado, e denuncia qualquer tentativa de matar os palestinianos à fome.
Majed Bamya, o embaixador palestiniano nas Nações Unidas, disse quarta-feira que “não há qualquer justificação para vetar uma resolução que tenta impedir as atrocidades”.