Sete a cada 10 brasileiros têm alguma queixa em relação ao sono, enquanto quatro dos queixosos têm problemas diretamente ligados ao adormecimento. Os dados são elencados por Fernando César Mariano, otorrinolaringologista e especialista em medicina do sono. Ele é o entrevistado desta sexta-feira (9) no Assembleia Entrevista, que vai ao ar às 15h na TV Assembleia, da Assembleia Legislativa do Paraná.
“O sono é como uma orquestra que está bem ensaiada. Cada um dos instrumentos é importante e insubstituível”, ilustra o médico. “O nosso organismo foi talhado por milhões de anos, desde os nossos antepassados, para sermos diurnos e aproveitar a noite para dormir”.
A entrevista é uma oportunidade para o público compreender aspectos que garantem a qualidade do adormecimento. São recomendadas de oito a 10 horas de sono para adolescente, enquanto para adultos são saudáveis de sete a nove horas. A pessoas deve dormir de forma contínua, uma vez que o sono profundo exige uma quantidade razoável de horas para ser alcançado.
Prejuízos da privação de sono
Conforme o médico, os grandes vilões por trás dos problemas de sono no Brasil são a apneia do sono, a insônia e o ronco. Somente a apneia do sono acomete cerca de uma a cada três pessoas no Brasil. Devido a aspectos hormonais e sociais, como a sobrecarga de funções domésticas e laborais, as mulheres são as principais vítimas destas condições.
Estima-se que o cenário seja pior do que o registrado, por conta da subnotificação e do subdiagnóstico dos casos. “As pessoas passam anos sem tratar, sofrendo com o problema”, explica o especialista.
Fernando César Mariano detalha para a TV Assembleia como a privação do descanso afeta o nosso cérebro: ela anula o córtex pré-frontal, importante para a tomada de decisões, tal como estimula regiões vinculadas ao medo e à ansiedade, favorecendo assim a impulsividade e a adoção de escolhas ruins. Além disso, a insônia estimula áreas associadas ao medo e à ansiedade.
“Imagina um adolescente que dorme pouco. Há aumento de impulsividade, de depressão e até de tendências suicidas. Não dá para pensar que a pessoa será mais produtiva dormindo menos, isso está totalmente errado”, alerta o especialista, referindo-se a casos em que a privação do descanso está vinculada à estudos e outros projetos pessoais.
O médico destaca que a privação crônica do sono está vinculada a mais de 50 doenças.
Casos de insônia explodiram desde a pandemia
Desde a pandemia, houve uma explosão no número de pacientes com os problemas de sono. Uma das razões é a ansiedade. “O Brasil é um dos países com maior índice de ansiedade do mundo. Tudo o que a gente faz durante o dia acaba interferindo com o nosso padrão de sono”, explica o especialista.
Dentre os dilemas contemporâneos, Mariano cita o excesso de telas e casos de ortosonia – nome dado ao quadro de obsessão por um “sono perfeito”. A preocupação excessiva, expressa muitas vezes no uso de tecnologias para favorecer o adormecimento, pode justamente comprometê-lo.
O uso de remédios nem sempre é a melhor escolha. “Muitas vezes, com medidas simples, conseguimos evitar a medicação”, destaca o médico. Lidar com pensamentos, adotar rituais de relaxamento, entre outras atitudes, colaboram com as melhorias.
O médico sugere ainda tentar dormir e acordar em horários regulares, mesmo no fim de semana; alimentação saudável, evitar nicotina e tabaco, evitar o uso de telas, expor-se à luminosidade natural ao acordar e manter rotina de exercícios físicos. “A qualidade do sono começa quando acordamos. Tudo o que fazemos durante o dia interfere à noite”
Assista na TV Assembleia e no YouTube
O programa “Assembleia Entrevista” da TV Assembleia, canal da Assembleia Legislativa do Paraná, pode ser assistido sintonizando o aparelho de televisão no 10.2 – rede aberta, em Curitiba e Região Metropolitana – e no canal 16 (Claro/NET). Sempre às sextas-feiras, às 15 horas no canal da TV Assembleia; e às 15h30 (de sexta-feira), no YouTube.