(Esq. p/ dir.) Deputado Tercilio Turini (MDB); o homenageado, Igor Chmyz; e o proponente da solenidade, deputado Evandro Araújo (PSD).
Créditos: Valdir Amaral/Alep
Uma das maiores referências da arqueologia no Brasil e no Mundo, o arqueólogo paranaense Igor Chmyz recebeu na manhã desta terça-feira (17) o título de Cidadão Benemérito na Assembleia Legislativa do Paraná. A honraria é assinada pelo presidente do Legislativo, deputado Alexandre Curi (PSD), pela presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), a desembargadora Lídia Maejima, e pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).
A homenagem foi proposta pelo deputado Evandro Araújo (PSD), que ressaltou a importância do dom de Chmyz para a ciência. Na abertura da sessão solene, o parlamentar contou que Chmyz teve de contrariar o desejo dos pais, que sonhavam em ter filho médico. “A vocação dele é para a ciência, numa área tão importante para nos conhecermos como seres humanos. A humanidade deve muito para arqueologia”, ressaltou Araújo. “Ele merece ser reconhecido pelo Paraná por ser importante não só para o Estado, mas para todo o Brasil”.
A cerimônia realizada no Auditório Legislativo foi dedicada a relembrar a trajetória do pesquisador, nascido em União da Vitória e hoje com 87 anos. Seu vínculo com a arqueologia teve início no fim da década de 1950 e persiste até os dias de hoje. Ele se tornou referência na área de salvamento arqueológico, que visa proteger e resgatar o patrimônio cultural durante empreendimentos.
Chmyz atribui a importância do seu trabalho ao registro de paisagens paranaenses que não existem mais. “Acumulei um grande volume de dados nas minhas pesquisas arqueológicas. Não consegui usar todos, e vejo que hoje eles ajudam em dissertações de mestrado e doutorado de alunos da UFPR. Isso me alegra muito. Muitos dos locais nos quais eu estive exercendo atividades não existem hoje devido ao avanço agrícola e imobiliário. Muitos estão submersos, devido à formação de reservatórios de água”, afirmou. “Acho que essa foi a minha missão nessa jornada”, complementou.
Trajetória
Antes mesmo de entrar na faculdade, entre 1958 e 59, Chmyz acompanhou equipes de escavação e topografia que investigavam resquícios de antigas povoações de jesuítas e indígenas do Paraná, chamadas de Ciudad Real del Guahyrá e Vila Rica do Espírito Santo. Por influência do arqueólogo José Loureiro, se matriculou em Geografia e História na Universidade Federal do Paraná (UFPR) – alternativas à época para seguir a recém-descoberta paixão pela arqueologia.
A partir de então, liderou escavações em diversos estados, como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amapá, Minas Gerais, Maranhão e Paraná. Aqui, se destacou em pesquisas nos vales de rios paranaenses, nos estudos sobre cerâmica Tupi-guarani e em projeto de salvamento em Foz de Areia e Itaipu – para citar alguns detalhes de um currículo imenso.
Igor Chmyz também colaborou com a pesquisa enquanto professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR), lecionando Arqueologia Pré-histórica. Ele também comandava os trabalhos no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (Cepa). Em 2007, ele foi aposentado compulsoriamente.
Ao elencar um trabalho que o orgulha, Chmyz lembra a descoberta de um sítio arqueológico na Praça Tiradentes, no Centro de Curitiba. As escavações que ele conduziu revelaram resíduos de calçamento, canalizações, entre outras características da antiga urbanização da capital paranaense. A descoberta, realizada em 2008, resultou na reformulação do projeto de revitalização que estava em curso. O desenho passou a valorizar os vestígios da herança histórica, possíveis hoje de serem vistos por meio de um piso transparente.
Educação pública
O evento também reafirmou a importância da educação superior pública para o Brasil. “Junto ao deputado Evandro Araújo e outros, fazemos a defesa de nossas universidades. Às vezes elas são mal compreendidas, e as públicas, mais ainda. Sabemos a importância delas, pois quem faz pesquisa é a universidade pública”, destacou o deputado Tercilio Turini (MDB). “A homenagem é o coroamento de um trabalho feito com muito carinho e dedicação”.
“O prêmio é a materialização do reconhecimento dessa casa à importância de uma área que produz muito conhecimento relevante, mas que por vezes é injustamente atacada e não reconhecida”, enfatizou Adelaide Hercília Pescatori Silva, diretora do setor de Ciências Humanas da UFPR.
Ela destacou que Chmyz representa a primeira geração de arqueólogos formados no Brasil. Junto com outros pesquisadores, fomentou a vinda de estudiosos franceses para formar escolas no Brasil. “Essa iniciativa resultou na formação e outros arqueólogos que, anos mais tarde, estabeleceram núcleos de pós-graduação e laboratórios de pesquisa no país a fora”.
A atual carência de arqueólogos foi ressaltada por Fabiana Moro Martins, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Estado do Paraná (IPHAN-PR). “Precisamos de recursos financeiros, mas também de recursos humanos para ajudar nessas pesquisas. Temos a possibilidade de auxiliar centros de pesquisa, financiar equipamentos e instalações. Mas sentimos a demanda de técnicos”.
Jorge Vila Lobos, professor da Universidade Estadual de Maringá, apontou a necessidade de recursos para a preservação do Cepa, que guarda um vasto acervo arqueológico contendo várias peças resgatadas por Chmyz. A necessidade orçamentária também foi endossada por Silva. “Foi verba pública que fomentou a pesquisa do professor Igor. É um trabalho que exige tempo de realização, além de paciência e atenção a detalhes”.
Carlos Alberto Barbosa, representando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), “Sabemos que muitos dos sítios arqueológicos que o senhor pesquisou não existem mais. A antropologia paranaense e brasileira terá um débito eterno com o senhor”, frisou Carlos Alberto Barbosa, servidor que representou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).