As ações da Americanas dispararam 180% nesta quinta (14), para R$ 9,41, elevando o valor de mercado da companhia em R$ 1,2 bilhão num único pregão. No encerramento da sessão, a capitalização da varejista era de R$ 1,88 bilhão, contra R$ 672,8 milhões que a companhia valia na bolsa ontem.
LEIA TAMBÉM
Ambipar já subiu 900% no ano. Sobe mais ou derrete após lucro subir quase 30%?
Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil: qual ação de banco comprar após resultados?
Investidores reagiram aos resultados reportados ontem pela varejista referentes ao seu terceiro trimestre. Foi a primeira vez que a Americanas reportou lucro num período em quase dois anos – desde que as fraudes contábeis vieram à tona, em 11 de janeiro de 2023.
E os números de performance da ação hoje são vultosos, mas podem passar a impressão de que o quadro para o ativo é mais positivo do que é de fato. Então muita calma nessa hora!
- Um ponto fundamental para entender a alta de hoje é que não faz muito tempo que a ação da Americanas bateu o fundo do poço. Na sexta passada, dia 8 de novembro, o ativo foi ao menor valor da sua história: R$ 3,13. A empresa encerrou aquela sessão com valor de mercado de R$ 626,76 milhões.
Além disso, a Americanas ainda está (beeem) distante de seus melhores dias.
- Em 3 de agosto de 2020, pico de valor do papel, o valor de mercado da companhia era de R$ 70,5 bilhões na bolsa, ou seja, quase 38 vezes mais do que o que ela vale hoje.
Em outras palavras: apesar da alta expressiva de hoje, o patamar de capitalização atual da Americanas representa apenas 2,6% do que ela alcançou no seu auge.
Ajustado pela inflação desse período, considerados o grupamento e os dividendos distribuídos de 2020 para cá, o valor da ação no seu pico equivaleria a R$ 12.325,84 hoje.
Mas estes foram os dias de glória para o varejo, o setor que mais se valeu do “novo normal” da pandemia, que jorrou dinheiro no comércio – e especialmente nas operações de e-commerce. Os tempos de euforia com o setor ficaram para trás desde que o Banco Central passou a promover apertos firmes nos juros no fim de 2021 – e seguimos até hoje sem perspectivas de alívios, cabe lembrar.
Mas mesmo depois dos apertos na Selic, a derrocada da Americanas veio com a explosão do escândalo contábil. Antes desse episódio, seu valor de mercado ainda era muito superior ao atual.
A Americanas encerrou o pregão de 11 de janeiro de 2023 capitalizando R$ 10,8 bilhões na bolsa brasileira. Na noite daquele dia, o ex-presidente da companhia Sergio Rial veio a público revelar ter encontrado o rombo nas contas da empresa, que mais tarde se desenrolou na descoberta da maior fraude do mercado brasileiro nos últimos anos.
Por fim, um dos fatores mais importantes para entender como os valores da ação da Americanas discernem tanto nesse intervalo de tempo é o grupamento de ações. No último dia 26 de agosto, para driblar a queda abismal no valor de seu ativo, a varejista realizou o grupamento na proporção de 100 pra 1.
A grosso modo, o grupamento proposto no caso da Americanas significava que cada 100 papéis da companhia negociados na bolsa se “juntaram” e foram transformados em um. Esse movimento acontece quando as ações de uma empresa estão sendo negociadas a preços muito baixos.
Esse tipo de movimento é, inclusive, incentivado pela própria B3. Isso porque, quando papéis são negociados a valores muito baixos, as variações percentuais deles ficam distorcidas. Trocando em miúdos: Qualquer mudança de centavos pode significar uma alta ou queda muito altas.
Às vésperas de a Americanas fazer o grupamento, grandes credores – que haviam se tornado acionistas graças à negociação do plano de recuperação da companhia – se desfizeram de suas posições na empresa. Foram os casos de bancos como o Santander e o BTG Pactual.
A saída de acionistas majoritários trouxe mais volatilidade para as ações. Isso porque os papéis que estavam nas carteiras desses grandes agentes foram colocados em circulação e as posições ficaram diluídas em portfólios de investidores menores.
Resumo da ópera: quando a varejista confirmou as esperanças de que pode estar no caminho certo para se recuperar, investidores se animaram (e muito). Agora resta ver se as perspectivas se confirmam – do contrário, o papel seguirá no mesmo sobe e desce dos últimos meses.