Provocações, acusações e ataques mais comedidos, além de pelo menos 11 pedidos de direito de resposta negados, todos negados. Esse foi o clima do debate promovido pela TV Record na noite deste sábado (28), uma semana antes das eleições municipais. O debate começou com um clima ameno, indicando uma possível trégua na violência observada em outros encontros. Mas logo na segunda pergunta o clima esquentou.
Foi quando Pablo Marçal (PRTB) questionou Ricardo Nunes (MDB) sobre investigações da suposta máfia das creches, sugerindo o envolvimento do atual prefeito. Nunes chamou Pablo de “mentiroso contumaz” e disse que ele já tinha 22 condenações na Justiça Eleitoral por ter mentido contra Nunes. Marçal pediu o primeiro direito de resposta, que foi negado.
Na sequência, Tabata Amaral (PSB) foi para o embate contra Guilherme Boulos (PSOL) sobre o uso de entidades no apoio à educação, sugerindo divergências entre a posição do deputado federal e do partido dele.
“Tabata, eu lamento muito que você traga questões que não procedem à verdade para o debate”, reagiu Boulos sobre os questionamentos da colega da Câmara Federal.
Antes disso, a primeira pergunta já estrearia uma estratégia repetida em outros debates, a dobradinha entre Boulos e José Luiz Datena (PSDB) nas críticas ao atual prefeito Ricardo Nunes.
Na última resposta do primeiro bloco, à Marina Helena (Novo), Marçal foi advertido por chamar Boulos de “Boules” e perdeu 30 segundos das considerações finais. Ele também voltou a criticar Nunes, dizendo que era o “menor” candidato do debate.
Em uma das críticas, Marina voltou a afirmar que Boulos participava de invasões.
“Você sim invadiu propriedade privada e pública”, disse a ex-secretária de Paulo Guedes. Ela ainda criticou o MST e MTST, movimento que foi liderado por Boulos. “Esses movimentos nunca foram pra dar moradia para as pessoas, esses movimentos sempre foram para a busca pelo poder”, disse. O deputado federal rebateu e disse que os movimentos não invadem casas, mas ajudam a garantir moradia pra quem mais precisa.
Datena se irritou com uma pergunta feita pela jornalista Cristina Lemos. Ela questionou o apresentador sobre as possibilidades de desistência e de deixar o cargo para se tornar senador e também sobre a cadeirada em Marçal.
“Vocês querem que haja uma campanha democrática e tentam criar situações que não são democráticas”, reclamou Datena sobre a cadeirada. “Quanto ao que a senhora perguntou, a senhora pode contar com o que acha que é destemperança mas é coragem de não ter medo de bandido de PCC e milícia”, completou ele.
O segundo bloco já começou com um embate direto entre Boulos e Nunes. O candidato do PSOL questionou onde o candidato do MDB estava em novembro de 2023, quando São Paulo “sofria com o apagão”, lembrando as passagens pelos eventos esportivos da Fórmula 1 e do UFC.
“Deputado, você ficou lá em Brasília só pra liberar o Janones da rachadinha, que depois ele acabou sendo indiciado pela Polícia Federal. Aquela passada de pano que você fez pra ele não resolveu. Uma vergonha você como deputado fazer uma coisa dessas lá”, respondeu Nunes.
No mesmo bloco, uma dobradinha inusitada de agressor e agredido. Marçal e Datena, que haviam sido personagens centrais no episódio da cadeirada se juntaram nas críticas a Ricardo Nunes sobre questões relacionadas à segurança pública. A dobradinha sem ataques ou críticas entre Datena e Marçal ainda foi repetida no final do bloco, quando o tema era fome e pobreza.
Ainda nessa resposta, Marçal afirmou que está fazendo uma espécie de “jejum pelo povo” na sua última resposta a Datena.
“Eu estou só tomando água desde segunda-feira ao meio-dia e vou entregar na próxima segunda, sete dias, que é o número da plenitude pra você entender como eu estou levando isso aqui a sério”, alegou.
Pouco antes, Tabata também criticou Marina Helena depois de ter tido um direito de resposta negado. “A única forma que ela encontra pra se aparecer é trazer mentira, uma atrás da outra”.
Apesar das provocações, críticas e ataques, os candidatos conseguiram apresentar propostas sobre segurança pública – citando a Cracolândia, a expansão da Guarda Civil Metropolitana e o furto de celulares -, escolas e creches, pobreza e saúde. Eles também debateram sobre indicações partidárias e uso de verba pública em campanhas eleitorais.
Regras mais duras
Logo de cara, o mediador do debate, Eduardo Ribeiro, informou aos candidatos sobre as regras mais rígidas do que o usual. Foram proibidos apelidos ou palavrões, em comum acordo com os candidatos. Antes do debate, integrantes das campanhas foram avisados que não poderiam usar telefones para gravações ou fotos sob pena de punição com perda do tempo de fala dos respectivos candidatos.
Os candidatos também foram proibidos de deixar seus lugares atrás do púlpito. Em cada uma das três primeiras infrações, os candidatos perderiam 30 segundos do tempo de um minuto e meio reservado para considerações finais. Marçal foi o único que perdeu tempo.
“Se houver confusão ou tumulto, a Record inclusive se reserva ao direito de tirar esse programa do ar”, afirmou o mediador do debate antes de passar a palavra aos candidatos.
Os candidatos também foram orientados a não fazer gestos quando não estivessem a palavra, o que rendeu um alerta depois de reações de Boulos a Nunes.
Medidas de segurança
Depois dos últimos acontecimentos em debates anteriores, a Record reforçou o esquema de segurança e colocou homens com detectores de metais na entrada do estúdio. Os candidatos também tiveram acompanhantes restringidos. Apenas quatro por candidato foram autorizados, sendo que dois deles não puderam subir ao palco durante o intervalo.
A medida foi tomada depois dos problemas em outros dois debates. No encontro promovido pela TV Cultura, o apresentador José Luiz Datena deu uma cadeirada no ex-coach Pablo Marçal. No debate do podcast Flow, um assessor de Marçal deu um soco na cara do estrategista de Ricardo Nunes.
O clima de violência se espalhou em diversas cidades pelo país, com ameaças, agressões e até atentados a tiros a candidatos em cidades dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Próximos debates
Há outros dois debates marcados. Na noite da próxima segunda-feira (30), os candidatos se encontram no debate promovido pela Folha de S. Paulo e pelo UOL. Na quinta-feira (3) é a vez da TV Globo sediar os debates.