Assim como já havia ocorrido no debate da Band, na semana passada, o encontro foi marcado por muitos confrontos entre os candidatos, com trocas de farpas e ofensas. Apesar disso, houve maior discussão de propostas em relação ao evento anterior.
O prefeito Ricardo Nunes foi novamente o principal alvo de críticas dos adversários. Em mais de um momento, ele reclamou do que chamou de “mentiras” e “ataques pessoais” dos seus concorrentes. O discurso majoritariamente voltado para ações da gestão teve contra-ataques esporádicos, sobretudo nos direitos de resposta concedidos pelos organizadores.
Como contraponto ao prefeito, seu principal adversário direto nas pesquisas, Guilherme Boulos procurou associá-lo a Jair Bolsonaro, apostando na alta rejeição o ex-presidente em São Paulo. O psolista levantou dúvidas sobre “quem mandaria” em uma mesa com o emedebista e o líder do PL e reproduziu frases polêmicas de Bolsonaro.
José Luiz Datena voltou a concentrar seu foco nos ataques à gestão Ricardo Nunes e insistiu em segurança, novamente afirmando que irá acabar com a infiltração da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) nos serviços públicos. Ele não foi atacado pelos concorrentes e se mostrou melhor preparado do que na Band para falar de propostas, depois de admitir que precisa “pegar traquejo” nos debates.
Marçal repetiu várias vezes seu bordão “faz o M”, esteve menos virulento com os outros candidatos, mas protagonizou o principal confronto do debate, em bate boca e agressões com Boulos. O ex-coach continua apostando em frases de efeito e táticas para viralizar nas redes sociais, como ao perseguir o psolista com uma carteira de trabalho.
Assim como Datena, Tabata também se concentrou em críticas à atual administração municipal, mas não priorizou a segurança, atacando outros setores. Beneficiada pelo formato do debate, que separou os candidatos em duplas, apareceu mais do que na Band e precisou enfrentar o ex-aliado tucano e Boulos, ambos de forma leve e sem entrar em polêmicas.
Em seu primeiro debate, Marina Helena tentou se posicionar como a “única candidata de direita”, repetiu por três vezes que é “mãe” e fez dobradinhas com Marçal. Ela deu mostras de que adotará a estratégia de tentar tirar votos de Nunes, apelando para a pauta de costumes.
O primeiro bloco começou com o embate entre Nunes e Marina, que havia ficado de fora do primeiro debate na TV Band. Nunes manteve a estratégia de reclamar de ataques pessoais e levar a discussão para problemas da cidade, com autoelogios à sua gestão. A candidata do Novo ensaiou uma “dobradinha” ao defender o modelo de creches conveniadas, mas logo passou a desgastar o prefeito na pauta de costumes, dizendo que a “direita honesta” não deve reeleger o emedebista.
— Chega das nossas crianças na escola aprendendo ideologia de gênero e aprendendo a ser comunista — declarou Marina Helena, depois de criticar o programa “Saúde para Todes”, da Secretaria Municipal da Saúde, que produz conteúdo sobre visibilidade da população LGBTQIA+. — Não tenho nada contra a opção sexual dos adultos, mas deixem as crianças fora disso.
Ainda no tema da educação, Boulos e Datena falaram sobre o desafio de zerar o analfabetismo em São Paulo, que atinge 2,6% da população de 15 anos ou mais. O candidato do PSOL prometeu o “mutirão Paulo Freire” fora das escolas. Já o tucano, que aparenta ter se preparado melhor para o segundo debate, disse que o seu objetivo é “entregar a criança sabendo ler e escrever com 8 anos”.
Tabata e Marçal discutem desigualdade racial
O empresário Pablo Marçal aproveitou a pergunta sobre desigualdade racial na educação para alfinetar os concorrentes sobre o fato de ser o único a ter como vice na chapa uma mulher negra.
— Por que você não colocou uma vice negra? — perguntou Marçal a Tabata, cuja vice é a professora Lúcia França (PSB), esposa do ex-governador Márcio França, do seu partido. — Diferente da teoria, na prática a Antônia de Jesus é minha vice. Ela é negra, da periferia de Pirituba. Não tem nenhum vice negro aqui a não ser na minha candidatura.
A deputada federal respondeu dizendo que a questão racial não deve ser tratada no específico, mas no coletivo, e que os grupos de trabalho do seu plano de governo foram liderados por mulheres e negros. Tabata falou ironicamente sobre o fato de Marçal se apresentar como professor, mesmo não tendo formação na área.
Economia é tema de segundo bloco
No segundo bloco do debate, o tema sorteado foi economia e o papel da prefeitura na promoção do desenvolvimento da capital. Abrindo com Marina Helena e Tabata Amaral, a candidata do Novo continuou apostando em associar a imagem dos adversários mais à esquerda e desferiu ataques contra o PT. Enquanto Tabata propôs a criação de parques tecnológicos na Zona Leste e Zona Oeste e uma parceria do poder público com o setor privado para a formação de novos talentos, Marina defendeu “menos estado”.
— É fácil ver as propostas da esquerda, é sempre o estado que vai fazer. O estado mais atrapalha do que ajuda. O que enriquece uma cidade é menos burocracia e mais imposto. O contrário do que o desgoverno do PT está fazendo, PT que é apoiado pela Tabata — disse Helena.
Tabata, assim como no debate anterior, voltou a citar projetos específicos da cidade ao devolver a pergunta para Helena, questionando qual seria o papel da Fundação Paulistana de Educação, Tecnologia e Cultura e da Agência São Paulo de Desenvolvimento (Adesampa) em eventual gestão da candidata do Novo.
Helena citou um programa de capacitação profissional do governador Romeu Zema, do Novo, em Minas Gerais, e voltou a atacar Tabata.
— Mostra a sua CLT. Eu trabalho desde os 10 anos, mostra a sua CLT — disse Helena.
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Na sequência, Nunes e Datena foram para a bancada. Em mais uma mostra de que está baseando seus comentários no plano de governo, Datena disse que quer transformar a periferia em um centro atrativo para empresas por meio de benefícios fiscais e trouxe até um nome para a proposta: “território de emprego”. Em seguida, atacou Nunes:
— São Paulo está mais desigual, mais pobre e abandonada do que nunca. Parece que o senhor quer exterminar o cidadão de baixa renda e privilegiar os ricos.
— Fico triste e preocupado quando as pessoas, querendo chegar a um objetivo, só falam mal da cidade — respondeu Nunes. — Uma cidade grande, com 12 milhões de habitantes, evidentemente que tem os seus problemas, mas tem os seus avanços.
Marçal e Boulos trocam ofensas
Marçal e Boulos protagonizaram a principal discussão do debate, com direito a acusações de “roubo a banco” e ofensas religiosas.
A discussão começou quando falavam sobre mobilidade no segundo bloco do debate. Ao repetir a promessa de criar o modal teleférico, Marçal arrancou risos da plateia:
— Não adianta rir que você também vai andar — disse o candidato do PRTB para Boulos.
Na hora das perguntas diretas, Boulos disse que Marçal não deveria “nem estar” no debate.
— No último debate, você disse que deixaria a sua candidatura se mostrassem a sua condenação como ladrão de banco. Eu mostrei, está na minha rede social, mas você mostrou mais uma vez que não tem palavra.
— Você é o “PT kids” na prefeitura de São Paulo. Isso aqui é a escória da esquerda — retrucou Marçal.
— Você é um mentiroso compulsivo. Você é o Padre Kelmon dessa eleição. Veio para tumultuar, é uma caricatura — disse Boulos, prestando atenção no tempo restante.
— Se eu sou o Padre Kelmon, eu vou exorcizar o demônio com uma carteira de trabalho. Nunca trabalhou, é um grande vagabundo — disse Marçal.
Boulos disse que “tem o maior orgulho” de ter começado a dar aula em uma escola estadual.
— Sou professor, não sou coach. Não ganho dinheiro enganando os outros na internet.
Ao final do confronto, os dois deixaram o palco, mas continuaram discutindo. Eles estavam sentados lado a lado. O candidato do PRTB seguiu Boulos apontando-lhe uma carteira de trabalho. Os dois se sentaram lado a lado, e Marçal seguiu apontando a carteira, e Boulos deu um tapa no objeto. Os dois seguiram discutindo e uma pessoa da produção do debate precisou intervir. Então o psolista se levantou para o próximo embate.
Ao contrário do que ocorreu logo antes, Datena e Marçal não se atacaram no debate. Quando estiveram frente a frente para falar sobre “tarifa zero” no transporte coletivo, fizeram “dobradinhas” para atacar a gestão Nunes. Eles aparecem empatados na pesquisa Datafolha, com 14%, contra 23% do atual prefeito.
— O meu recado é rápido: se o Ricardo (Nunes) é refém ou tem medo de tirar o PCC infiltrado no transporte coletivo, eu não tenho — disse Datena.
Marçal também prometeu revisar os contratos das empresas de ônibus caso seja eleito.
Lula e Bolsonaro viram tema no terceiro bloco
No terceiro bloco, Marina Helena e Boulos começaram com propostas para combater os problemas causados pelas mudanças climáticas, como enchentes e deslizamentos de terra. Mas rapidamente começaram com os ataques, com a economista tentando associar membros da campanha de Boulos ao PCC e o psolista relembrando investigações contra Jair Bolsonaro, da qual Helena atuou no governo.
Entre as propostas, a candidata do Novo defendeu regularização fundiária e aumentar o valor do aluguel social para R$ 700 enquanto Boulos defendeu a criação de mais áreas permeáveis para a absorção de chuvas. O psolista também criticou medidas do Plano Diretor que permitiram a construção de prédios no miolo dos bairros e prometeu rever as medidas da lei municipal.
— Você fala que o PCC está infiltrado nos transportes da cidade. Mas que moral você tem se um coordenador da sua pré-campanha, Antonio Donato, do PT, é acusado de receber R$ 75.000 de doação do chefe da máfia dos transportes […] não dá para confiar em quem defende bandido. O Boulos é apoiado pelo Lula, que nunca devia ter saído da cadeia — disse Helena.
— O governo que você participou entende de crime, ladrão de joia, que é o Bolsonaro, que é investigado pela Polícia Federal — disse Boulos.
Mobilidade na Zona Sul opõe Nunes e Tabata
Tabata e Nunes tiveram uma discussão sobre mobilidade e levaram a questão para a Zona Sul, origem de ambos.
Provocado pela alteração do programa de metas de Bruno Covas, de quem assumiu o mandato, Nunes citou entregas na região e disse que, em seis anos como deputada, Tabata poderia ter feito mais pela Vila Missionária.
— Fui a segunda parlamentar mais votada da minha região, competindo com compra de voto e tudo que é safadeza — rebateu a candidata, acusando Nunes de apelar para obras sem licitação e “mal planejadas”.
— Precisa ter essa humildade e essa capacidade de reconhecer o trabalho das pessoas — declarou Nunes na réplica.
Nos segundos finais, Tabata deu uma “sugestão de slogan” para o prefeito, que seria de “rouba e não faz”. O emedebista pediu direito de resposta, que foi concedido.
No quarto bloco, os ataques a Ricardo Nunes se intensificaram. Tabata e Boulos fizeram inicialmente dobradinha, explorando propostas para a segurança pública e atacando o prefeito no caso da manutenção dos contratos das empresas de ônibus investigadas pela Operação Fim da Linha.
Tabata relembrou o elogio que o prefeito fez à empresa de ônibus UPBus, após o início das investigações do Ministério Público por ligações com o crime organizado. Já Boulos resgatou uma fala polêmica do vice do emedebista, Coronel Mello Araújo, que defendeu uma atuação diferente da polícia na periferia e nos Jardins.
Os dois propuseram diálogo e atuação conjunta na área da segurança com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o governo federal. Tanto Boulos quanto Tabata disseram que pretendem manter encontros recorrentes com Tarcísio para tratar do assunto.
O ponto mais espinhoso do encontro foi o plano de governo de Boulos na área da segurança, que Tabata chamou de caro.
— De onde você vai tirar o dinheiro, vai aumentar impostos? — perguntou a candidata do PSB.
— Eu não vou aumentar impostos. Nosso plano de governo cabe no orçamento — respondeu Boulos.
Sobre a operação Salus et dignitas, em que o Ministério Público relatou um esquema de “milícia” na Cracolândia, formado por guardas civis metropolitanos, Nunes prometeu fortalecer a corregedoria e declarou que o caso investigado não representa a corporação.
O prefeito retornou à estratégia de citar ações da gestão, como o Smart Sampa, programa de monitoramento por câmeras de segurança.
Beneficiado pelo tema da operação do MP, que atinge a prefeitura, Marçal declarou que os subalternos sempre “parecem com quem está governando” e que o atual prefeito tem “perfil de vereador”.
— Esse perfil atrapalha o avanço dessa cidade. Tem gente aqui que é estudante, passou a vida estudando. Nunca trabalhou, empreendeu, nem construiu riqueza.
Boulos associa Nunes a Bolsonaro
Candidatos que lideram as pesquisas em São Paulo, Boulos e Nunes se enfrentaram no último bloco, com tema livre. O psolista procurou associar o prefeito ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que o apoia.
— Vou ler três frases: ‘O erro da ditadura foi torturar e não matar’, ‘Não te estupro porque você não merece’ e ‘Eu não confio na urna eletrônica’. Você concorda ou discorda do Bolsonaro? — questionou Boulos.
Pesquisas mostram que Bolsonaro enfrenta rejeição de 65% na cidade e que somente um terço dos moradores estão cientes do apoio ao emedebista na capital paulista.
— Não sou comentarista político, eu sou prefeito da cidade — desviou Nunes, que partiu para o ataque lembrando do relatório de Boulos que livrou o deputado André Janones da cassação por “rachadinha” no Conselho de Ética.
— O seu problema é que você não transmite confiança. Fico imaginando, numa mesa entre você e o Bolsonaro, quem vai mandar — declarou Boulos.
Dobradinha Marçal e Marina
No penúltimo encontro do debate, Marçal e Marina Helena trocaram elogios. O candidato do PRTB chamou a economista de mulher “guerreira, inteligente, bem intencionada”. Helena defendeu, por sua vez, a revisão dos contratos firmados pela prefeitura e, voltou a citar o governador de Minas Gerais Romeu Zema.
Marçal aproveitou o tempo para atacar Boulos e os outros candidatos que fazem parte de coligações partidárias. Chamou mais uma vez o deputado federal de “aspirador de pó” e disse que o candidato tem simpatia pelo “Foro de São Paulo, que querem comunizar as nações” e que veio para colocar “esse vagabundo fora da corrida eleitoral”.
Tabata esquece rusgas com Datena
Tabata esteve diante de Datena, seu ex-aliado, no debate. O apresentador era cotado a vice dela até ser transferido para o PSDB em uma tentativa de aglutinar as duas siglas, que acabou com Datena candidato.
Em entrevistas, a candidata já declarou que houve quebra de confiança e que “traições são comuns” na política.
Os dois evitaram a polêmica e fizeram perguntas leves para criticar o atual governo em termos de propostas a pessoas com deficiência e com a infiltração do crime organizado em contratos com a prefeitura.
Ao final, Tabata disse que os eleitores precisam prestar atenção ao envolvimento do entorno de Marçal no PRTB com o PCC. “Boa”, gritou Datena, com o microfone desligado.
O debate foi dividido em cinco blocos, com mediação da jornalista Roseann Kennedy. Os temas foram sorteados no início de cada rodada e envolvem educação, transporte, economia, meio ambiente, urbanismo, revitalização do centro e segurança pública. Convidados tiveram a oportunidade de dirigir questões aos candidatos, divididos em três duplas ao longo dos blocos.
Além das perguntas, os candidatos questionaram uns aos outros, com direito à réplica para quem fez a primeira pergunta. Em três momentos do debate, dois candidatos responderam individualmente a perguntas gravadas previamente pelo público.
O primeiro debate entre os candidatos ocorreu na quinta-feira passada, 8 de agosto, na TV Band, e foi marcado por intensa troca de acusações entre os participantes. Boletins de ocorrência sobre suposta ameaça de agressão à esposa, condenações por furto qualificado, “rachadinha”, Venezuela e ofensas como “para-choque de comunista” e “comedor de açúcar” apareceram no evento.