ABC na SBPC | A importância da comunicação pública da ciência – ABC

ABC na SBPC | A importância da comunicação pública da ciência – ABC

Notícia

A Acadêmica Thaiane Oliveira (UFF) apresentou um pouco do conteúdo do livro da ABC Desafios e Estratégias na Luta Contra a Desinformação em mesa-redonda na 76ª Reunião Anual da SBPC, em 11/07. Compunham a mesa com ela as professoras e pesquisadoras Ana Regina Barros Rêgo Leal (UFPI) e Luisa Massarani (Fiocruz/Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia INCT-CPCT).

Thaiane Oliveira, Maria Ataíde Malcher, Ana Rêgo e Luisa Massarani

Thaiane Moreira de Oliveira é jornalista, doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense e coordenadora do Laboratório de Investigação em Ciência, Inovação, Tenologia e Educação (Cite-Lab). É membro do INCT de Administração de Conflitos (Ineac), da Cátedra Unesco de Políticas Linguísticas para o Multilinguismo. É superintendente de Comunicação da UFF. É membra afiliada da Academia Brasileira de CIências, eleita para o período 2022-2026.

A pesquisadora explicou que DESINFORMAÇÃO é conceituada como informação deliberadamente feita para o engano. “As pessoas compartilham desinformação não por achar que é informação verdadeira, mas porque vai ao encontro das suas crenças”.

A cientista explicou que a desinformação é uma forma de deslegitimar o conhecimento do outro. “Há uma disputa sobre a informação científica. O mal-intencionado ‘torce’ a informação, se apropria dos signos e retóricas científicas para validar uma desinformação.”

Comunicação e ciência

A comunicação mudou. Atualmente, ela se dá prioritariamente pelas redes sociais, sendo que 30% dos brasileiros vivem num deserto informacional, segundo a palestrante. “O papel dos algoritmos na forma como nos comunicamos hoje mudou tudo. Precisamos compreender nosso ambiente digital para agir sobre ele”, observou Oliveira.

Dado que a ciência só sobrevive e se desenvolve a partir de controvérsias, o debate científico verdadeiro e profundo é saudável e faz a ciência evoluir. Oliveira ressaltou que a pseudociência, a anticiência, o negacionismo e a fake science se aproveitam das contradições inerentes ao processo científico e as tratam como inconsistência, ou seja, mais uma vez, subvertem as informações científicas como forma de validação dos seus argumentos deletérios, geralmente envolvendo disputas políticas.

Como enfrentar a desinformação?

A Acadêmica alertou para as graves consequências da desinformação. “Está ocorrendo uma perda de conhecimento sobre a realidade. A gente só sabe a verdade quando tem os dados. Então, estamos perdendo a soberania de conhecimento, enquanto essas plataformas digitais estão ganhando poder.

Ela ressaltou a importância da formação de profissionais capacitados para enfrentar a desinformação nas suas práticas laborais cotidianas, além de formar núcleos de educação e divulgação científica desde o ensino básico. “Temos hoje pessoas que trabalham com a comunicação dentro de um modelo que funcionava na década de 90. Talvez esses profissionais ainda não reconheçam as lógicas, as estratégias e as linguagens próprias do ambiente digital – ou seja, precisam de atualização. Isso é um ponto importante. Precisamos reconhecer a importância da comunicação pública da ciência, criando núcleos nas universidades e escolas, criando agências, fortalecendo a comunicação.”

Preparar profissionais

A palestrante relatou que desde 2019 as universidades públicas não podem abrir concurso para comunicação, Há um decreto que impede a abertura de concursos, não oferecem vagas para profissionais da comunicação de todas as áreas: vídeo, rádio, TV, design, jornalistas etc.. “E aí, volta e meia perguntam por que a comunicação falha. Ela não falha, ela está ‘sendo falhada’ propositalmente porque reconhece, identifica a estratégia. Enquanto isso, do outro lado, temos políticos vigentes que investem fortemente na comunicação”.

Então, a Acadêmica alerta que é preciso recuperar a possibilidade de contratação para o fortalecimento da comunicação pública das instituições científicas.  É preciso, também, reconhecer que há uma deficiência de conhecimentos sobre a desinformação científica, há muitas lacunas ainda para serem resolvidas e isso requer mais investimento nessa área da informação.

Oliveira propõe que se invista num plano de ação midiática com checagem de evidências – porque cientistas não produzem fatos, produzem evidências. “Precisamos criar uma rede de conexão com a sociedade civil, aumentando a nossa participação nos espaços deliberativos do Congresso e do Senado. Investir em ciência e tecnologia é uma condição de soberania nacional, assim como ocupar esses espaços e investir em comunicação pública também é uma questão de soberania nacional informacional”.